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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

“você nunca vai ser alguém na vida”


por Esther Carrenho

As muitas formas de violência
Frases ameaçadoras do tipo “você nunca vai ser alguém na vida” podem criar fantasmas por toda uma existência.

Violência não é um assunto moderno. Órgãos governamentais, educacionais e religiosos estão cada vez mais focando o interesse nesta área, e usando muitos recursos na busca de novos comportamentos, na esperança de que a violência familiar diminua. O mais lamentável é a constatação de que nem sempre a prática religiosa ameniza a agressividade. E em alguns casos, até há um aumento de agressão e violência motivada pelo zelo em relação ao cumprimento das regras e ou dos princípios da fé abraçada.
Há várias formas de se manifestar um comportamento violento: violência física, sexual, emocional, espiritual e outras. Fato é que qualquer violência é danosa e os males por ela causados podem ser desastrosos. A violência física, a mais fácil de ser identificada, é também a que mais chama a atenção. E contra esta podemos contar com a interferência policial, denunciando os abusos físicos que sofremos ou de que tomamos conhecimento. Mas é preciso ficar atento a outra forma de violência, bem mais sutil – mas nem por isso menos destrutiva: aquela praticada contra a alma do ser humano, a violência psicológica.
É alarmante o número de pessoas que chegam aos consultórios de psicólogos e terapeutas em busca de ajuda em relação a traumas adquiridos em conseqüência de violências sofridas na infância, na adolescência e na juventude. E os que se dão conta do mal sofrido e procuram atendimento especializado são os que apresentam ainda uma boa dose de saúde psíquica. Mas quantas pessoas estão hoje aniquiladas e destruídas a tal ponto que perderam qualquer motivação para serem elas mesmas e não encontram recursos para buscarem a restauração? E o mais desastroso é que muitas vezes quem pratica este tipo de violência é uma pessoa integrada na sociedade ou na comunidade religiosa – e daquelas que aparentam autocontrole, bondade e mansidão.
Vale citar o caso de Henrique, um jovem introspectivo, de pouca fala e com um talento artístico admirável. Enquanto criança, era distraído e demorava um pouco mais para apresentar resultados no aprendizado em comparação com a maioria dos colegas da mesma idade – só que sua mãe preferiria que o filho fosse uma dessas crianças falantes, desinibidas e que se destacassem pelo bom rendimento escolar. Como isso não acontecia, ela o criticava constantemente com frases duras, sempre desmerecendo o potencial do menino. Desapontada, aquela mãe resolveu levar Henrique a um médico, na certeza de que o filho tinha alguma deficiência séria. Foi o suficiente para que o menino entrasse numa espécie de congelamento emocional, acreditando que tinha menos potencial do que realmente possuía. Hoje, já adulto e em processo de resgate de sua própria auto-estima, ele já consegue se expressar, inclusive artisticamente, com muito talento.
A crítica, a comparação e a ameaça são as armas mais perigosas na violência emocional. A crítica, porque além de não construir uma auto-estima adequada, pode ainda aniquilar a confiança necessária a todo ser humano. A comparação, porque leva o indivíduo, sobretudo a criança, a duvidar dos próprios valores – mesmo que chegue à vida adulta e conquiste suas próprias realizações, sempre terá que lidar com aquela sensação negativa de que os outros são melhores. E a ameaça, porque pode criar fantasmas a povoar a mente, como se fossem monstros que se apresentam sugerindo frases ameaçadoras do tipo “você nunca vai ser ninguém na vida”.
Como pais, precisamos de coragem para olhar as projeções e idealizações que jogamos em cima dos nossos filhos. Não faz sentido exigir deles um desempenho incompatível com o jeito próprio de cada um ser. É preciso quebrar a imagem idealizada de perfeição a fim de abrir espaço para acolher as diferenças e peculiaridades dos filhos, sem temer a rejeição de outros – muitas vezes, aquela perpetrada pela própria comunidade religiosa. É preciso também uma capacidade de escuta amorosa, para ouvir de verdade quem é cada um dos filhos que estão sob nosso cuidado e responsabilidade.
Deus é nosso parâmetro de amor. Precisamos conhecer e experimentar profundamente a sua graça amorosa, a graça de um Pai que nos ama e nos acolhe indistintamente. Com a percepção do amor divino inundando nosso coração, seremos mais capazes de amorosamente acolher cada filho, ajudando-o a desenvolver o potencial nato e especial que cada ser humano tem. Sem críticas, sem comparação e sem ameaças.

Um comentário:

Dea Müller disse...

Shalom, Pastores,
Achei mto interessante o texto e venho pedir permissão para usar fragmentos numa apresentação que farei na faculdade no dia 8/6/09.
Jesus os abençoe,
Andréa Müller
Farei às devidas referências.
O blog de vcs tem me abençoado mto!!!

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