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sábado, 13 de abril de 2019

Porque os casais estão se divorciando mais.

No ano de 2016 o IBGE apontou o aumento do número de divórcios no Brasil em relação ao ano de 2015, algo em torno de 4,7%, e ao casamento  um decréscimo de 3,7%, vindo a confirmar uma tendência, pois  décadas anteriores, desde 1970,  os dados registrados foram nesse mesmo sentido, queda dos casamentos e aumento dos divórcios. E qual seriam os motivos que estariam levando as taxas de casamentos e divórcios a esses patamares?
Este fenômeno, queda dos casamentos e aumento do divórcio, mostra-se como uma tendência mundial. Em particular, no Brasil, tivemos mudanças na lei que geraram facilidades, redução da burocracias e do  tempo, a um custo também menor,  tendo como consequência um aumento considerável no número de divórcios. Hoje, um casal sem filhos menores ou incapazes, pode ir direto ao cartório e em trinta dias eles estarão divorciados, a um custo relativamente baixo, dependo de cada caso. Outrora um divórcio custaria, no mínimo, 10 a 12% do valor do patrimônio do casal em sendo consensual, podendo dobrar esse valor,  em caso de litígio,  e  poderia demandar em torno de  quatro anos para  chegar a sentença, nesses casos. Isso certamente contribuiu para o aumento do número de divórcios. Outra coisa, já não se faz  necessário ter um motivo para a ação de divórcio, basta o casal não querer mais continuar com a relação. Nem tampouco dependem de anos de convivência como era antes da mudança da lei do divórcio, em 2007, hoje pode se divorciar a qualquer tempo.
Estudos e pesquisas feitas em diversos países nos dão conta de que quando acontece uma crise financeira com consequências no aumento da taxa de desemprego, é observado um consequente aumento da taxa de divórcios. A economia do país estando em baixa, com reflexos nas finanças pessoais que se desiquilibram, são fatores que podem determinar o fim de um relacionamento, porém, não é este o único motivo, e talvez nem seja o principal.
Uma publicação na Revista SPAGESP vol.12 no.2 Ribeirão Preto dez. 2011, traz um estudo  sobre “Conflitos conjugais, motivos e frequência”, de autoria de Clarisse Mosmann, e Denise Falcke, da Universidade dos Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, e resume o tema conforme segue:
“A satisfação e a estabilidade das uniões conjugais não estão associadas diretamente à ausência de conflitos, mas à forma com que os cônjuges estabelecem estratégias para solucioná-los. Tendo em vista a dimensão de conflito como inerente à conjugalidade, este estudo buscou identificar os motivos de conflitos conjugais e a frequência com que ocorrem nas relações conjugais, sob a perspectiva da teoria sistêmica. Foi realizado um estudo quantitativo, com delineamento descritivo, com 149 casais de nível socioeconômico médio, residentes na capital e no interior do Rio Grande do Sul. Como instrumentos, foram utilizados um questionário de dados sociodemográficos e a Escala de Conflito Conjugal. Os resultados apontaram que o motivo mais frequente de desentendimento entre o casal é a relação com os filhos, seguido pelo tempo que desfrutam juntos, o dinheiro, as tarefas domésticas e, por fim, o sexo e as questões legais. Relação com os filhos ( como se educa, filhos de outros relacionamentos).
Através de uma amostragem com os 149 casais chegou-se ao seguinte resultado quanto aos motivos do divórcio, por ordem de importância:

Tempo que desfrutam juntos ( intimidade conjugal)
Finanças – (renda, endividamento. desemprego)
Tarefas domésticas ( obrigações compartilhadas)
Sexo
Questões legais

É interessante observarmos como esses fatores estão intimamente correlacionados, filhos menores, dependentes dos pais, exigem tempo e dinheiro, consumindo uma fatia importante da renda familiar. Casais estão preferindo planejar melhor o nascimento de filhos exatamente para evitar esse sofrimento, porém não todos o fazem.  Essas dificuldades refletem na taxa de natalidade, que no Brasil está em queda livre, ao passo que a população cresce em torno de 0,8 a 0,9 % ao ano.
A necessidade de a mulher trabalhar para compor a renda ,  faz com que a intimidade do casal não seja preservada, ficando em segundo plano o desfrutar de um bom sexo, o que traria saúde para a relação.
Há evidencias de que mulheres com uma renda mais qualificada, se divorciam com mais facilidade, pois dão um valor maior a independência e a realização profissional. Em busca de sobrevivência ou mesmo de empoderamento, ela torna-se uma máquina, administra a casa, cuida e encaminha os filhos, trabalha fora, volta pra casa onde  continua a trabalhar e  quando vê a noite já se vai. Depois é chegada a hora de repousar e de cumprir com a quase obrigação de ter sexo com o parceiro, sob risco de o perder. Não tem como ser diferente, o nível de satisfação conjugal sofre um prejuízo e o casamento deixa de ser o que se sonhou.
A vida nas metrópoles e centros urbanos concorre com o casamento, roubando o tempo e recursos do casal, onde ambos precisam não só trabalhar, mas também se qualificar para compor a renda num ambiente altamente competitivo. Casais voltam pra casa esgotados, depois de enfrentar trabalho, transito, cursos de qualificação, violência, filas, medos, estresses. Assim o dia amanhece, anoitece, e o novo dia vem, semanas e meses, uma rotina desumana que consome o seu  tempo e suas energias , e a eles só resta esperar o próximo feriado. Agora imagine isso tudo agindo ao mesmo tempo e o tempo todo na vida do casal, a relação entre num estado de vulnerabilidade e o resultado divórcio torna-se uma possibilidade muito grande. E se isso ainda não bastasse, ainda tem se as redes sociais como um novo e fascinante hábito, mais um ladrão da boa comunicação e porta escancarada para o conflito, excessiva oportunidade para a infidelidade. A mulher sobrecarregada com suas multitarefas, enquanto os homens, por sua vez, ainda não compreenderam que não têm que ajudar em casa de vez em quando, mas sim, se comprometerem em pé de igualdade, assumindo juntamente com elas as tarefas domésticas. Quando isso não ocorre torna-se um nascedouro de conflitos, como diz o pregador: “Onde tem um folgado, tem também um sufocado.”
Casais que praticam uma religião e são fortes na fé, tendem a permanecer casados, essa é observação feita em outros países onde estudos e pesquisas dão conta disso. Porém, no Brasil, com uma população bastante religiosa, tendo a religião católica com 50% da população e o crescente número de evangélicos com 30%, não tem sido suficiente para diminuir o número de separações e divórcios que mostram se em tendência de crescimento. “O divórcio é uma solução drástica para um casamento problemático ou que tenha passado por um forte trauma, como uma traição, por exemplo. No meio evangélico, ao longo de décadas, essa escolha sempre foi desencorajada pelos líderes, mas hoje, a proporção de casais cristãos que se separam é a mesma constatada em outros setores da sociedade.” Esta informação foi divulgada pelo Barna Group, instituto de pesquisa que se dedica a estudar o ambiente cristão e seu impacto na sociedade, assim como a influência da cultura secular entre os evangélicos, e toma ares de denúncia contra a igreja que não estaria cumprindo seu papel social.
Evitar o conflito conjugal nem sempre é possível, porém, saber resolver bem conflitos, certamente,  redundaria em um não divórcio mais tarde. Há três grandes períodos pelos quais as famílias passam ao longo do seu desenvolvimento:
 A primeira refere- se aos dez primeiros anos da relação, na qual o casal busca o ajustamento, adaptação e construção do sistema conjugal, ao mesmo tempo em que se distancia de sua família original. É nesse período que nascem os filhos, que muitas vezes abrandam os conflitos iniciais decorrentes da fase de ajustamento e garantem uma proximidade maior  da individualidade dos cônjuges na estrutura familiar.
A segunda fase, compreendida entre os dez e 20 anos da união conjugal, é a fase adolescente do casamento, marcada pelo crescimento e uma maior independência dos filhos, o que permite o movimento de recuperação da autonomia e individualidade dos cônjuges, podendo acarretar também um receio de desagregação das alianças familiares.
E por fim, a terceira fase, a fase da maturidade conjugal, período de reinvestimento na relação do casal, em consequência da saída dos filhos de casa, com quem os pais passam a se relacionar como adultos. Esta fase também é um perigo, pois eles se perderam enquanto casal, viviam em função dos filhos, servindo estes até como mediadores dos conflitos, porém, com a partida deles, o casal terá que se reencontrar dentro de casa. Terão que se readaptar um ao outro, alguns não conseguem, e a vida conjugal parece ter perdido o sentido.
Assim, temos que cada fase tem suas próprias benesses e seus próprios desafios, mas considerando a idade com que os casais estão se divorciando, 43 anos ele, e 40 anos ela, poderíamos afirmar que estão se separando na segunda fase do relacionamento, com filhos entrando numa fase de maior independência e liberando seus pais para se voltarem um para o outro, ou para se voltarem para a individualidade e até infidelidade caso estejam com a relação desgastada.
Considerando que os casamentos duram 15 anos no Brasil, o que coincide com a segunda fase e a idade dos cônjuges, se os casais conhecessem cada uma dessas fases seria um modo de se prevenir para as dificuldades que virão pela frente, daí o valor e a importância de uma boa preparação pré-nupcial, algo que não é tão usual.
 A igreja é um dos baluartes em defesa do casamento no que toca aos seus valores, porém, vejo a igreja evangélica brasileira, tratando dessa temática de maneira ineficaz e ineficiente, pois à medida que cresce o número de convertidos deveria refletir em queda no número de divórcios e isso não se verifica, pelo contrário, vem aumentando a nível global e também entre os evangélicos, quando estudos apontam para uma situação de igualdade, cristãos evangélicos se divorciam tanto quanto os não evangélicos.
Faltam pesquisas, estudos, e literatura direcionada à realidade brasileira, o que lemos, estudamos, geralmente são trabalhos de autores estrangeiros, especialmente os americanos, onde a realidade é outra. Somado a isso, as ações específicas da igreja no trato com os casais, na maioria dos casos, se resumem a um encontro de casais de 01 ou de 03 dias ao longo do ano, e algumas poucas reuniões de grupo com finalidades outras, como comunhão, lazer, mas raramente para estudos sistemáticos e profundos. Os líderes de casais em sua grande maioria são bem intencionados, gente da melhor estirpe, porém, com poucas ferramentas nas mãos, geralmente acabam atendendo aqueles que têm um melhor poder aquisitivo, ficando os mais pobres alijados dessas oportunidades de conhecimento e tratamento.
Nos EUA, depois de uma onda de divórcio em 1970, acadêmicos passaram a estudar o fenômeno em  criaram um Programa de Intervenção Conjugal , que envolvia os casais em processo de aprendizagem, reflexão , conscientização e treinamentos de habilidades na resolução de conflitos, e o resultado foi muito bom. Conhecido como “PREP” O programa foi desenvolvido para ensinar casais  habilidades de comunicação e resolução de conflitos, utilizando-se de técnicas comportamentais de terapia conjugal, associadas a ideias de treinamentos em comunicação. Atende os mais diversos grupos sociais, e no caso dos cristãos, tem-se um Programa específico com fulcro nas Escrituras Sagradas. Não foi a solução final do problema, porém, os resultados foram surpreendentes.  Talvez, programas  com uma proposta brasileira pudesse minorar essa situação desconfortável. No Brasil, os evangélicos, têm como fonte de informação, prevenção e tratamento ao divórcio, os ministério de casais, alguns bons cursos, mas nem sempre acessíveis a todos, e as ministrações dos líderes das igrejas, porém, de acordo com os dados do IBGE, não estamos conseguindo fazer frente a onda de divórcios. Uma coisa é conhecer o problema, outra coisa é mudar os comportamentos, saber não basta, é preciso aprender habilidades mais eficazes no trato dos conflitos. A Bíblia traz estratégias positivas, como a boa comunicação, o perdão, a transformação do pensamento, a aquisição de virtudes e valores morais, a mutualidade, o compromisso, a perseverança, a resiliência, porém, a sua aplicação nem sempre se torna um hábito. Alias, há dados que afirmam que casais onde a esposa é bondosa, mesmo sendo o marido alguém que resiste a transformações, o resultado acaba sendo positivo em virtude dessa bondade feminina, o que confirma texto bíblico nesse sentido, onde a esposa ganha o seu marido sem dizer-lhe palavras, apenas com seu comportamento.
É triste pensar que a igreja brasileira possa estar sendo vencida pela cultura contemporânea quanto ao casamento que diminui e o divórcio que aumenta. Ora, se há informações que dizem que quando o casal pratica uma religião e uma fé forte, o casamento se estabiliza e permanece no tempo, seria injusto pensar que a fé dos evangélicos casados é uma fé rasa, fé que sucumbe diante dos conflitos? Creio que não é questão de fé rasa, mas sim, falta de ensino de habilidades para superar as crises que surgem de tempos em tempos na relação conjugal. Não preparamos nossos jovens para o casamento, eles não sabem quase nada sobre as crises previsíveis conforme o tempo de casados, nem tampouco o que fazer para evita-las ou supera-las.
Estamos vivendo o tempo do “politicamente correto” em detrimento do “biblicamente correto”, e a massificação midiática da informação, quase que na sua totalidade contrária aos valores conjugais cristãos, seja por questões ideológicas ou culturais, escolhas de uma sociedade altamente permissiva, acaba afetando o comportamento individual também  dos cristãos, que já não caminha na contra cultura como antes.  Haja vista a união estável ao invés do casamento formal, relações líquidas e não duradouras, amores “facebookianos”, tudo isso, de alguma forma, desagrega e banaliza o casamento. O descompromisso talvez seja mais nocivo que o conflito em si, pois impede a perseverança e a busca de resolução para as crises. Crises e conflitos devem ser solucionados e não ignorados, isso não o fazem desaparecer, ao contrário, provoca acumulo de ressentimentos que vão aflorar mais adiante, chamado efeito “bumerangue”.  Administrar bem os micros conflitos impede que aumentem a sua gravidade e por fim redundem em divorcio.
Concluindo, temos uma crise financeira que leva os casais a trabalharem duro para manterem suas posições na empresa ou disputarem vagas de emprego, num intensa busca de qualificação profissional, ou mesmo de formação, consumindo energias e e recursos, e  trazendo como consequências um esfriamento associado ao estresse acumulado que acaba eclodindo dentro de casa. Enquanto isso os filhos chegaram e precisam de cuidados e do tempo dos pais, afastando ainda mais um do outro. Quando não, os filhos já estão crescidos, mas os pais que se afastaram por tanto tempo, perderam o sentido da relação e não conseguem voltar a se encontrarem dentro de casa como amantes. Com o aumento do estresse, a relação torna-se um barril de pólvora, a comunicação radioativa, altamente explosiva e assim, perde-se a alegria e a satisfação conjugal. Diante do quadro, casais optam para o divórcio, vez que aos seus olhos parece mais fácil e mais barato desistir do que investir, coisa que somente mais tarde verão o custo emocional e financeiro dessa escolha, pois vem a pensão do cônjuge, a pensão dos filhos, a estruturação da nova casa, despesas judiciais e advocatícias, além do enorme desgaste emocional que acaba levando a tratamento psiquiátrico ou psicológico. E nessa problemática toda, a igreja que não consegue ajudar satisfatoriamente no sentido de evitar a separação do casal. Tenho crido que a Bíblia traz respostas satisfatórias para todas as crises humanas, porém, é preciso mais que conhecê-las , é preciso que elas façam parte do dia a dia dos casais, para que assim se ande na sua luz, com mudanças de hábitos.
Concluímos que os filhos menores, a falta de tempo para os casais, as crises financeiras, o sexo ruim ou inexistente, e não compartilhamento dos deveres domésticos, estão entre os principais  fatores que determinam a insatisfação conjugal e o divórcio. O casamento por sua vez, tem sido trocado pela união estável, como que uma maneira de não assumir um compromisso formal com o casamento, e estar pronto para uma eventual separação, o que acaba engrossando ainda mais as já altas taxas de divórcios, pois como pode permanecer um casamento que desde o seu começa se prepara para o fim? Fica aí a indagação, e a nossa oração por um intervenção de Deus, usando seus filhos para uma ação eficaz contra esse estado de coisas.

Por Pastor Ismael R Carvalho

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